segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Caruru que virou Muqueca...


Essa é a estória de um caruru que eu estava desejando e minha amiga Ana Botafogo do Sertão resolveu me oferecer. Mas depois do “Caruru do Curuzú ao Sto Antônio” nosso Caruru virou Muqueca!!!
Na culinária brasileira, arte mestiça, parte integrante da cultura original deste povo, a “moqueca” (“muqueca” para nós baianos) tem um lugar de real destaque.
A peixada trazida pelos portugueses era feita numa grelha de varas ou em apenas folhas de árvores cobertas por cinzas quentes, fogão improvisado pelos índios que era chamado de “moquém”, por isso este prato típico da nossa gente recebe o nome de “moqueca”.

Aos ingredientes da peixada portuguesa somaram-se os ingredientes habituais da culinária africana, introduzidos pelos negros, aqui chegados na mais triste das condições (mas sempre muito sarados e com o sorriso largo de dentes brancos! Ô povo festeiro). Eram eles que, na maioria das vezes (sempre!), estavam à frente das cozinhas das casas-grandes, adaptando o comer europeu aos ingredientes aqui encontrados, e ao paladar vindo dos navios negreiros. Assim, o azeite de oliva juntou-se ao azeite de dendê; o branco leite de coco trouxe uma nota de doçura no contraste com a pimenta-de-cheiro da terra conquistada. A mandioca do índio (ôpa que disso eu entendo!) veio enriquecer a receita, pois da sua farinha faz-se o pirão que acompanha o prato, complementando-o de maneira perfeita.

Em mais de quinhentos anos de Brasil, a moqueca assumiu novos sabores e porque não dizer, outros saberes... Pensando nisso e no dia que passei na companhia de pessoas tão interessantes, divertidas e até mesmo nutritivas (não sei vocês, mas eu me alimento de toda essa alegria!), cheguei a conclusão que todos nós fazemos parte dessa “muqueca de gente”.
Me diz ai se não é uma verdadeira “muqueca” juntar essas figuras inusitadas? Já dei uma amostra de alguns deles: Pequeno Grande Homem, Espinhela Caída, Ana Botafogo do Sertão, Regra de 3 e o Índio das Castanholas (co-adjuvante que tentei preservar, mas depois de reclamações tenho que citá-lo).
Hoje conheci outras figuras que sem dúvida são ingredientes indispensáveis dessa “muqueca”. São eles: “Sr. Cabrueira”, “Menino Rala Coxa”, “Entre 18 e 28 Pode Molhar o Biscoito”, “Graúuuuda”, “Denorex” e “Dr. Dedão” (ou “Double D” ou “WD” segundo Dona Espinhela Caída).
Nessa muqueca rolou de tudo um pouco! Teve gente que quase trocava a “muqueca” por um bom pedaço de coxa (e outras partes tb!), teve dicas do Dr. Dedão para o verão, teve gente com ressaca do casamento, teve gente soltando as pérolas, teve momento paparazzi, teve viagem no túnel do tempo relembrando “o casamento da minha amiga adolescente”e nesse mesmo túnel relembramos o “cabelo de poodle”, teve gente que não pode dançar forró sem tomar a pílula do dia seguinte, teve ataque ao beijú, teve capa de violão que podia virar um belo vestido,

teve gente na biela se oferecendo para ser babá (“Entre 18 e 28 Pode Molhar o Biscoito”), teve gente com bons princípios mas não descobrimos se são bons finais, teve papo religião e “I see dead people”, teve papo de ter filhos gêmeos,

teve análises astrológicas dos signos do Zodíaco e análises psicológicas de relacionamentos, teve gente fazendo planos para os eventos culturais dessa semana e do fim de semana no Rio, e até planos para o próximo feriado na rua, na chuva, na fazenda ou no sítio, teve 2ª rodada de cocada, teve gente querendo voar de asa delta, garçon provocando ciúme por causa da cerveja, teve gente sambando, dançando forró, gente ficando gripada, gente com dor no rim de rir… uma “muqueca” deliciosa!
A moqueca deixou de ser um prato único, para ser a preparação de uma comida que, cozida em panela de barro (“Deus fez o homem do barro”), mistura estes temperos portugueses (loiras dos olhos azuis, cor de mel e castanhos), africanos (cada um tem seu gene dessa raça mas nem todos tem o abdome sarado e a bunda dura) e indígenas (com os cabelos mais lisos que nenhuma escova ou chapinha consegue fazer e uma cútis que não envelhece) e excita a imaginação de quem cria arte com os sabores. A nossa “muqueca” é o manjar brasileiro por excelência. E essas “pessoas ingredientes”, ou melhor dizendo, “temperos exóticos” (e também eróticos!), é que fazem a diferença no sabor!!!
Eita muqueca gostoooosaaaa!!!

7 comentários:

  1. Todos os personagens sensacionais, mas sem sombra de dúvida, o Índio das Castanholas foi a melhor definição!

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  2. E hoje, no dia de Cosme e Damiao, aqui na sua casa... xinxin de galinha, caruru, vatapá feito no dia, fresquinho da hora...E ano que vem tem mais... quiabo inteiro né? bjsssss

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  3. Vocês não imaginam a felicidade que me deram vindo aqui prestigiar meu caruru dos meninos! Eles estão felizes da vida!!! E enquanto os gêmeos não chegam vamos fazendo festa e comidinhas! O próximo encontro será "De Tapas por España" com muita comida española e vinho pra deixar todo mundo com amnésia, né Fá?!!!

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  4. Onde, quando, como foi isso, amiga???? Amei!!!! Na próxima "muqueca de gente" quero estar presente, desfrutando desse sabor e dos maravilhosos saberes... Me deu uma enorme saudade do tempo bom que não volta mais e uma vontade imensa de resgatar os laços naquele tempo construídos... Vamos nos ver!!! Beijos Lari...

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  5. SENSACIONAAAALLLL!!!! Essa criatura escreve MUITO!!!
    Estava aqui pensando com os meus botões!! Se meu codinome aumentou a minha área de abrangência/atuação, posso PERFEITAMENTE levar o "Menino Rala Coxa" para o parque de diversões!!! Vcs me autorizam?? Kkkkk!!

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  6. Temos que fazer uma reunião extra, "ordináaaria!", para decidir se vc pode acom, "panhar!", o "Menino Rala Coxa" ao parque. Acho que esse tema é muito complexo para deliberarmos assim sem uma an,"aliiise" profuuuundaaa...kkkk!!! Aguarde nossas intruções de pro"cedimento"...kkkk

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  7. Eu quero saber, quando é que eu vou para uma dessas. Só fico com água na boca lendo essas maravilhas. Carla, você é retada na escrita, na comida, que maravilha, viva a Carla.

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